segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Onde esta a Felicidade - Alberto Bittencourt

Contam que um discípulo de Buda, certa vez, perguntou-lhe: “Mestre, como podem essas pessoas que vêm ao templo vestidas apenas de trapos, que nada possuem a não ser uma tigela para pedir arroz, como podem essas pessoas ser felizes?” Ao que o Mestre respondeu: “Essas pessoas, vestidas apenas de trapos, que nada possuem a não ser uma tigela de arroz, são felizes porque não pensam no futuro, nem no passado. Elas são felizes porque pensam apenas no presente”.
A lição de Buda mostra que a felicidade, antes de ser um objetivo de vida, perseguido, buscado, é muito mais um estado de espírito, uma atitude de vida e como tal, deve ser praticada no dia a dia. Isso implica numa de disciplina de felicidade.

Há um ditado que diz: A felicidade não está no fim do caminho. A felicidade é o próprio caminho.

Para nós, que vivemos em sociedade, a felicidade está intimamente ligada á interação entre as pessoas, no que se chama de relacionamento. Esse relacionamento nem sempre é harmônico. Conflitos normalmente acontecem, mas o caminho da felicidade é procurar resolve-los pacificamente. O segredo é a empatia.

Empatia é a capacidade de avaliar o sofrimento dos outros. É a capacidade de se colocar no lugar do outro, de olhar a situação pelo ponto de vista do outro. Assim, procedendo, você evitará muitos conflitos, pois entenderá as razões do outro. Colocar-se no lugar do outro é um dos caminhos da paz, da felicidade.

James Hunt, autor de “O Monge e o Executivo”, disse que “a confiança é a cola que une os relacionamentos”. Para cultivar a mútua confiança, é preciso estar junto, estar disponível, desenvolver a atenção, o diálogo, saber ouvir.

Antigamente uma correspondência levava meses para ir de uma cidade a outra, transportada por um mensageiro a pé. Com a evolução dos tempos, veio o cavalo, o trem, o avião, que reduziram as distâncias e o tempo.

Hoje, uma mensagem é transportada a uma velocidade de 8.400 km/segundo, quase instantaneamente. As pessoas se relacionam com o mundo através da Internet. Mas, nesse mundo globalizado, essas mesmas pessoas se entocam, se enclausuram, deixam de conviver, de simplesmente estar uns com os outros, pelo simples prazer de estar junto. A sociedade de hoje prima pela pobreza relacional. É raro um amigo visitar o outro, muito mais difícil é fazer novas amizades.

“Não fique só”, disse dom Helder Câmara. O caminho da felicidade é procurar velhos amigos para conversar, discutir projetos, compartilhar dúvidas e inquietações. É aproveitar as oportunidades de se fazer novas amizades.

Recentemente, eu e minha mulher fomos a um casamento. Eu garanto que todos já viram este filme. Há pessoas que se retiram antes do término da cerimônia religiosa e correm para o salão de recepção, se aboletam nas mesas a guardar lugar para amigos e familiares. Outros já vão direto ao local da festa, nem passam pela cerimônia. Quando lá chegamos, as mesas, de dez lugares estavam todas ocupadas por apenas um casal cada. Saímos perguntando: “Esses lugares estão disponíveis?” A resposta era a mesma: “Não, a família está a caminho.” Essa atitude, a meu ver, é egoística e segregadora. Restavam-nos as alternativas: ficar em pé, o que não é agradável, sobretudo para as senhoras de salto alto, reclamar junto ao cerimonial, ou sentar na marra, gerando um conflito.

Já estávamos resignados a ficar de pé, encostados a um pequeno balcão, quando fomos salvos por nossa filha que encontrou lugar em uma mesa ocupada por simpático casal.

Vocês nem imaginam como foi rica a experiência de compartilhar idéias, pontos de vista, opiniões e impressões com esse agradável casal recém-conhecido. No final trocamos cartões. Nosso genro e filha, ambos veterinários, ao que parece, até ganharam novos clientes.

Quando vou sozinho ao restaurante Chica Pitanga, perto de meu escritório em Boa Viagem, a recepcionista sempre pergunta: “o sr. aceita compartilhar a mesa?”

A maioria das pessoas prefere almoçar sem a companhia de estranhos, mas eu sempre digo que sim. Via de regra surge um papo interessante, pois para mim todas as pessoas são interessantes. Sempre temos algo a aprender com alguém, por mais inesperado que seja. O Dalai Lama, em seu excelente livro “A Arte da Felicidade”, diz que adora partilhar as inquietudes de chefe de estado do Tibete com a camareira ou faxineira dos hotéis em que se hospeda. As pessoas se sentem importantes e valorizadas, diz ele, e sempre têm alguma contribuição a dar.

Muitos relacionam felicidade com a satisfação de seus desejos. Porém o desejo só existe enquanto não for alcançado. Você pode pensar que será feliz somente se, por exemplo, for aprovado num concurso, se aposentar, ou obtiver certos bens materiais. Porém, alcançar um desejo é apenas o início de novos desejos. No momento em que você o realiza, surgem outros, você passa a desejar mais, pois sempre haverá algo a ser almejado.

Outros confundem felicidade com prazer, porém, a felicidade que advém unicamente do prazer é instável, especialmente se for prazer físico. Uma vez desaparecido o objeto do prazer, ela deixa de existir.

Para os budistas, a felicidade é desapego, é libertação dos desejos. Para eles, as boas ações que você vai acumulando formam o seu “Campo do Mérito”, constituído pelos registros positivos de nossa mente, que resultam de todas as ações positivas. O estoque de mérito é que vai determinar as condições favoráveis para as vidas futuras, dizem eles. Um meio de acumular méritos envolve a tolerância, respeito, confiança nas outras pessoas.
A felicidade está diante de nós, aqui e agora. Não a deixemos passar.

Namastê.

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